quarta-feira, 7 de maio de 2008

A nossa região tem excelentes condições para a produção de alimentos em Modo de Produção Biológico”



José Marques Dinis Assunção, presidente da direcção da Associação de Agricultores para Produção Integrada de Frutos de Montanha (AAPIM) “A nossa região tem excelentes condições para a produção de alimentos em Modo de Produção Biológico” O Engenheiro Agrário José Assunção é o presidente da Associação de Agricultores para Produção Integrada de Frutos de Montanha (AAPIM), sedeada na Guarda, actividade que desenvolve a par das funções de Coordenador Regional da PERIAGRO, SA [empresa que realiza avaliações a nível nacional]. Natural da freguesia da Castanheira, concelho da Guarda, também está ligado à actividade autárquica, sendo o actual líder parlamentar do PS na Assembleia Municipal da Guarda.
A Guarda:
Que ligação tem à Guarda?
José Assunção:
A minha relação afectiva com a Guarda iniciou-se desde muito jovem, quando iniciei a minha vida académica no Colégio de S. José. Terminados os estudos secundários, fui fazer a minha formação superior em ciências agrárias, após o que regressei para desenvolver a minha actividade profissional na região.
A Guarda:
Qual a sua ocupação profissional?
José Assunção:
Até há pouco tempo fui dirigente da Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior. Recentemente aceitei novos desafios e actualmente sou Coordenador Regional da PERIAGRO, SA que partilho com a presidência da AAPIM e que tento compatibilizar com a conclusão de um Mestrado em Agroecologia. A Guarda: Como aparece a sua ligação à Associação de Agricultores para Produção Integrada de Frutos de Montanha (AAPIM)? José Assunção: A minha ligação à AAPIM, surge do facto de ter sido há já mais de catorze anos, um dos sócios fundadores, conjuntamente com um grupo de empresários agrícolas dos Distritos da Guarda Viseu e Castelo Branco e ter aceite coordenar este projecto.
A Guarda:
Como surgiu a AAPIM e quais são os seus objectivos?
José Assunção:
As preocupações ambientais sentidas a nível global a partir dos anos noventa desenvolveram novos modos de produção agrícola, compatíveis com a preservação do ambiente e dos recursos naturais. Os modelos produtivistas desenvolvidos no pós guerra, sem quaisquer preocupações ambientes estavam ultrapassados e era necessário desenvolver novos paradigmas, visando a produção de alimentos mais seguros na defesa do ambiente e da saúde pública. Acompanhando as mudanças que se vinham operando em alguns países mais desenvolvidos da Europa percebemos que dispondo nós de conhecimentos técnicos e científicos dos novos modelos de agricultura, não podíamos resignar-nos e propusemos aplicar estes novos modelos na nossa região, para o que convidámos alguns dos empresários agrícolas mais evoluídos da região, a organizarem-se numa associação pioneira a nível nacional nestes sistemas agrícolas. Hoje a AAPIM é uma das organizações mais prestigiadas do País e os seus associados dispõem hoje de formação técnica e ambiental que os coloca ao nível dos agricultores mais evoluídos da Europa. É gratificante verificarmos que no interior também somos capazes de desenvolver projectos inovadores e de sucesso. Estatutariamente, a AAPIM, tem ainda como objectivo: - desenvolvimento de um novo modelo de assistência técnica, visando uma agricultura competitiva mas sustentável e evolução técnica e ambiental dos seus associados, pela introdução de modos de produção ambientalmente sustentáveis através da Produção Integrada (PRODI) e Modo de Produção Biológico (MPB); - promover a formação dos associados com a aquisição de competências, dotando-as com conhecimentos técnicos e de gestão adequados à cada vez maior competitividade impostas às suas explorações; - promover a certificação e promoção dos produtos, resultantes destes modos de produção; - promover a comercialização dos produtos com recurso à utilização de novas técnicas de marketing, em parceria com instituições da especialidade e pela concentração do produto e procura de escala, organizada em fileira.
“A AAPIM tem já vários associados com marcas de dimensão internacional a aplicar o Modo de Produção Biológico, nas suas explorações”.
A Guarda:
Quantos associados tem, que área abrange e que actividades são desenvolvidas pela AAPIM?José Assunção:
A AAPIM tem actualmente 713 associados em nome individual, como empresários e agrupamentos de produtores, com uma área de 5.278 hectares, nas culturas de vinha, maça, cereja, pêssego, olival, castanheiro e frutos secos, distribuídos pelos Distritos da Guarda Viseu e Castelo Branco, com várias explorações no Douro e Alentejo, sendo responsável pela assistência técnica e formação dos seus associados nas várias especialidades. Todos os associados da AAPIM estão obrigados a aplicar na sua exploração técnicas compatíveis com a protecção ambiental e produção de alimentos de elevada qualidade intrínseca através da Produção Integrada e da Agricultura Biológica.Para prestar formação e assistência técnica aos seus associados a AAPIM, dispõe de um corpo técnico especializado nestes modos de produção, apoiados por laboratórios fitossanitários e estações meteorológicas automáticas, para monitorização e controlo das várias pragas e doenças das diversas culturas. Todos os associados da AAPIM estão abrangidos por um sistema de certificação dos seus produtos, através de um Organismo Privado de Controlo, garantindo a rastreabilidade e segurança alimentar dos seus produtos.A AAPIM desenvolve ainda, em parceria com diversas Universidades e outras instituições, projectos de investigação e desenvolvimento, na área das ciências agrárias e ambiente.A Guarda: Qualquer agricultor pode ser sócio ou são exigidos requisitos específicos?José Assunção: A AAPIM é uma associação de nível nacional, podendo ser associados todos os agricultores que aceitem os desafios da competitividade e sustentabilidade dos espaços rurais.A Guarda: Considera que o futuro do sector agrícola passa pela agricultura biológica?José Assunção: A Agricultura Biológica de que falamos é um modelo de agricultura científica, que não deverá ser confundida com agricultura “abandonológica” que existe ainda no conceito de tanta gente! O País e especialmente a nossa região tem excelentes condições para a produção de alimentos em Modo de Produção Biológico. Num mercado cada vez mais globalizado, só poderemos ser competitivos pelo valor acrescentado dos produtos de elevada qualidade produzidos com recurso a modos de produção que dêem garantias de qualidade e de segurança. O consumidor, cada vez mais informado e preocupado com a segurança alimentar, procura cada vez mais produtos de origem biológica. A procura ao nível dos países mais informados não pára de crescer. A Europa tem programas de apoio a este modo de produção visando atingir até ao final do novo Quadro 10% da produção convencional. O desenvolvimento da Agricultura Biológica na nossa região é ainda importante para a sustentabilidade e criação de riqueza no nosso território, contrariando o fatalismo de abandono que teima em desertificar as zonas rurais. Temos que ser capazes de vencer este desafio.A Guarda:
No Distrito da Guarda já existem muitos produtores dedicados à agricultura biológica?
José Assunção:
Sim, já existem na região vários agricultores a desenvolver este modo de produção em diversas culturas. A AAPIM tem já vários associados com marcas de dimensão internacional a aplicar o Modo de Produção Biológico, nas suas explorações, porque já perceberam as tendências mundiais do mercado e querem chegar primeiro para não perderem competitividade.
A Guarda:
Qual o ponto de situação da candidatura para a instalação de um olival biológico – o maior do país – na Beira Interior?
José Assunção:
O Plano Integrado para o desenvolvimento do olival biológico promovido pela AAPIM, foi entregue em Setembro e aguarda a regulamentação do PRODER para ser aprovado. Já tive a oportunidade de fazer a apresentação do projecto ao Ministro da Agricultura [Jaime Silva] e na recente reunião de trabalho aqui na Guarda, com as Organizações do Distrito o projecto foi classificado pelo Senhor Ministro como um projecto relevante, de interesse para a região e para o País, pelo que a Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro está a procurar mecanismos legais de financiamento, para a sua aprovação. Não podemos perder muito tempo, 2013 está quase aí…
A Guarda:
Que outros projectos, de grande significado, estão a ser desenvolvidos pela AAPIM?
José Assunção:
Estamos a preparar em parceria com algumas Universidades, projectos de investigação sobre as diversas culturas nas áreas da competitividade sustentável do ambiente. Estamos também a negociar com uma empresa de comercialização de nível internacional, a comercialização das prunoideas dos associados da Cova da Beira, para além doutros projectos que não é ainda oportuno revelar.A Guarda: Considera que o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) é decisivo para desenvolver a agricultura na região?José Assunção: O QREN, através do Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), é um documento que no seu espírito geral, pretende criar condições estruturais ou incentivar os agentes a executarem políticas de desenvolvimento sustentável, nas zonas rurais do país, definindo como objectivos estratégicos principais: aumentar a competitividade dos sectores agrícolas e florestais; valorizar os espaços rurais e os recursos naturais de forma sustentada; revalorizar a economia e socialmente as zonas rurais. É um programa que para além de pretender desenvolver a competitividade da nossa agricultura, tem subjacente preocupações ambientais e paisagísticas, das zonas rurais, onde poderão ser apoiadas economias de desenvolvimento de produtos de qualidade aproveitando o potencial endógeno da nossa região. A AAPIM aceitou o desafio provocado pelo PRODER e assumiu os riscos de apresentação de planos de fileira. Esperamos que os decisores e os vários agentes económicos da região, não desperdicem esta oportunidade, que poderá ser a última.SECÇÃO: Entrevista

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