José Marques Dinis Assunção, presidente da direcção da Associação de Agricultores para Produção Integrada de Frutos de Montanha (AAPIM) “A nossa região tem excelentes condições para a produção de alimentos em Modo de Produção Biológico” O Engenheiro Agrário José Assunção é o presidente da Associação de Agricultores para Produção Integrada de Frutos de Montanha (AAPIM), sedeada na Guarda, actividade que desenvolve a par das funções de Coordenador Regional da PERIAGRO, SA [empresa que realiza avaliações a nível nacional]. Natural da freguesia da Castanheira, concelho da Guarda, também está ligado à actividade autárquica, sendo o actual líder parlamentar do PS na Assembleia Municipal da Guarda.
A Guarda:
Que ligação tem à Guarda?
José Assunção:
A minha relação afectiva com a Guarda iniciou-se desde muito jovem, quando iniciei a minha vida académica no Colégio de S. José. Terminados os estudos secundários, fui fazer a minha formação superior em ciências agrárias, após o que regressei para desenvolver a minha actividade profissional na região.
A Guarda:
Qual a sua ocupação profissional?
José Assunção:
Até há pouco tempo fui dirigente da Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior. Recentemente aceitei novos desafios e actualmente sou Coordenador Regional da PERIAGRO, SA que partilho com a presidência da AAPIM e que tento compatibilizar com a conclusão de um Mestrado em Agroecologia. A Guarda: Como aparece a sua ligação à Associação de Agricultores para Produção Integrada de Frutos de Montanha (AAPIM)? José Assunção: A minha ligação à AAPIM, surge do facto de ter sido há já mais de catorze anos, um dos sócios fundadores, conjuntamente com um grupo de empresários agrícolas dos Distritos da Guarda Viseu e Castelo Branco e ter aceite coordenar este projecto.
A Guarda:
Como surgiu a AAPIM e quais são os seus objectivos?
José Assunção:
As preocupações ambientais sentidas a nível global a partir dos anos noventa desenvolveram novos modos de produção agrícola, compatíveis com a preservação do ambiente e dos recursos naturais. Os modelos produtivistas desenvolvidos no pós guerra, sem quaisquer preocupações ambientes estavam ultrapassados e era necessário desenvolver novos paradigmas, visando a produção de alimentos mais seguros na defesa do ambiente e da saúde pública. Acompanhando as mudanças que se vinham operando em alguns países mais desenvolvidos da Europa percebemos que dispondo nós de conhecimentos técnicos e científicos dos novos modelos de agricultura, não podíamos resignar-nos e propusemos aplicar estes novos modelos na nossa região, para o que convidámos alguns dos empresários agrícolas mais evoluídos da região, a organizarem-se numa associação pioneira a nível nacional nestes sistemas agrícolas. Hoje a AAPIM é uma das organizações mais prestigiadas do País e os seus associados dispõem hoje de formação técnica e ambiental que os coloca ao nível dos agricultores mais evoluídos da Europa. É gratificante verificarmos que no interior também somos capazes de desenvolver projectos inovadores e de sucesso. Estatutariamente, a AAPIM, tem ainda como objectivo: - desenvolvimento de um novo modelo de assistência técnica, visando uma agricultura competitiva mas sustentável e evolução técnica e ambiental dos seus associados, pela introdução de modos de produção ambientalmente sustentáveis através da Produção Integrada (PRODI) e Modo de Produção Biológico (MPB); - promover a formação dos associados com a aquisição de competências, dotando-as com conhecimentos técnicos e de gestão adequados à cada vez maior competitividade impostas às suas explorações; - promover a certificação e promoção dos produtos, resultantes destes modos de produção; - promover a comercialização dos produtos com recurso à utilização de novas técnicas de marketing, em parceria com instituições da especialidade e pela concentração do produto e procura de escala, organizada em fileira.
“A AAPIM tem já vários associados com marcas de dimensão internacional a aplicar o Modo de Produção Biológico, nas suas explorações”.
A Guarda:
Quantos associados tem, que área abrange e que actividades são desenvolvidas pela AAPIM?José Assunção:
A AAPIM tem actualmente 713 associados em nome individual, como empresários e agrupamentos de produtores, com uma área de 5.278 hectares, nas culturas de vinha, maça, cereja, pêssego, olival, castanheiro e frutos secos, distribuídos pelos Distritos da Guarda Viseu e Castelo Branco, com várias explorações no Douro e Alentejo, sendo responsável pela assistência técnica e formação dos seus associados nas várias especialidades. Todos os associados da AAPIM estão obrigados a aplicar na sua exploração técnicas compatíveis com a protecção ambiental e produção de alimentos de elevada qualidade intrínseca através da Produção Integrada e da Agricultura Biológica.Para prestar formação e assistência técnica aos seus associados a AAPIM, dispõe de um corpo técnico especializado nestes modos de produção, apoiados por laboratórios fitossanitários e estações meteorológicas automáticas, para monitorização e controlo das várias pragas e doenças das diversas culturas. Todos os associados da AAPIM estão abrangidos por um sistema de certificação dos seus produtos, através de um Organismo Privado de Controlo, garantindo a rastreabilidade e segurança alimentar dos seus produtos.A AAPIM desenvolve ainda, em parceria com diversas Universidades e outras instituições, projectos de investigação e desenvolvimento, na área das ciências agrárias e ambiente.A Guarda: Qualquer agricultor pode ser sócio ou são exigidos requisitos específicos?José Assunção: A AAPIM é uma associação de nível nacional, podendo ser associados todos os agricultores que aceitem os desafios da competitividade e sustentabilidade dos espaços rurais.A Guarda: Considera que o futuro do sector agrícola passa pela agricultura biológica?José Assunção: A Agricultura Biológica de que falamos é um modelo de agricultura científica, que não deverá ser confundida com agricultura “abandonológica” que existe ainda no conceito de tanta gente! O País e especialmente a nossa região tem excelentes condições para a produção de alimentos em Modo de Produção Biológico. Num mercado cada vez mais globalizado, só poderemos ser competitivos pelo valor acrescentado dos produtos de elevada qualidade produzidos com recurso a modos de produção que dêem garantias de qualidade e de segurança. O consumidor, cada vez mais informado e preocupado com a segurança alimentar, procura cada vez mais produtos de origem biológica. A procura ao nível dos países mais informados não pára de crescer. A Europa tem programas de apoio a este modo de produção visando atingir até ao final do novo Quadro 10% da produção convencional. O desenvolvimento da Agricultura Biológica na nossa região é ainda importante para a sustentabilidade e criação de riqueza no nosso território, contrariando o fatalismo de abandono que teima em desertificar as zonas rurais. Temos que ser capazes de vencer este desafio.A Guarda:
No Distrito da Guarda já existem muitos produtores dedicados à agricultura biológica?
José Assunção:
Sim, já existem na região vários agricultores a desenvolver este modo de produção em diversas culturas. A AAPIM tem já vários associados com marcas de dimensão internacional a aplicar o Modo de Produção Biológico, nas suas explorações, porque já perceberam as tendências mundiais do mercado e querem chegar primeiro para não perderem competitividade.
A Guarda:
Qual o ponto de situação da candidatura para a instalação de um olival biológico – o maior do país – na Beira Interior?
José Assunção:
O Plano Integrado para o desenvolvimento do olival biológico promovido pela AAPIM, foi entregue em Setembro e aguarda a regulamentação do PRODER para ser aprovado. Já tive a oportunidade de fazer a apresentação do projecto ao Ministro da Agricultura [Jaime Silva] e na recente reunião de trabalho aqui na Guarda, com as Organizações do Distrito o projecto foi classificado pelo Senhor Ministro como um projecto relevante, de interesse para a região e para o País, pelo que a Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro está a procurar mecanismos legais de financiamento, para a sua aprovação. Não podemos perder muito tempo, 2013 está quase aí…
A Guarda:
Que outros projectos, de grande significado, estão a ser desenvolvidos pela AAPIM?
José Assunção:
Estamos a preparar em parceria com algumas Universidades, projectos de investigação sobre as diversas culturas nas áreas da competitividade sustentável do ambiente. Estamos também a negociar com uma empresa de comercialização de nível internacional, a comercialização das prunoideas dos associados da Cova da Beira, para além doutros projectos que não é ainda oportuno revelar.A Guarda: Considera que o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) é decisivo para desenvolver a agricultura na região?José Assunção: O QREN, através do Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), é um documento que no seu espírito geral, pretende criar condições estruturais ou incentivar os agentes a executarem políticas de desenvolvimento sustentável, nas zonas rurais do país, definindo como objectivos estratégicos principais: aumentar a competitividade dos sectores agrícolas e florestais; valorizar os espaços rurais e os recursos naturais de forma sustentada; revalorizar a economia e socialmente as zonas rurais. É um programa que para além de pretender desenvolver a competitividade da nossa agricultura, tem subjacente preocupações ambientais e paisagísticas, das zonas rurais, onde poderão ser apoiadas economias de desenvolvimento de produtos de qualidade aproveitando o potencial endógeno da nossa região. A AAPIM aceitou o desafio provocado pelo PRODER e assumiu os riscos de apresentação de planos de fileira. Esperamos que os decisores e os vários agentes económicos da região, não desperdicem esta oportunidade, que poderá ser a última.SECÇÃO:
Entrevista